A participaçao das mulheres na Comuna de Paris

Publicado el 04 mayo 2011 por Andreadatri
Transcribo mi ponencia en la Conferencia: A participaçao das mulheres na Comuna de Paris, que tuvo lugar en el - Evento Nacional "140 anos da Comuna de Paris" - organizado por la Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Chapecó (Santa Catarina, Brasil)
Desde meados do século dezoito até meados do século dezenove, com a produção artesanal, expande na Europa, o modo de trabalho por peça, feito principalmente pelas mulheres em suas próprias casas, e desenvolve-se rapidamente a indústria têxtil.
Esta tendência à proletarização das mulheres tornou a "mulher trabalhadora” em uma figura problemática, que desafiava a idéia de feminidade de ideologia patriarcal dominante e representava um dilema entre o "dever ser" de sua feminidade e o trabalho assalariado.
Emergía assim, com a figura da "mulher trabalhadora", uma oposição antagônica entre a casa e a fábrica, a maternidade e a produtividade, os valores tradicionais e a modernidade imposta pelo capital.
A figura da "mulher trabalhadora" dá origem a um intenso debate entre aqueles que defendiam seu direito à inclusão na produção social, e as pessoas que rejeitaram essa participação com alegaçoes baseadas em posições tanto libertárias como também profundamente sexistas.
Marx e Engels entenderam que se opor a incorporação das mulheres na produção social, citando os males que traz para a sua existência, não é realista: o desenvolvimento industrial arrasa com todos os costumes e valores existentes, as mulheres e as crianças são incorporadas à produção, apesar dos conservadores moralistas e socialistas pequenoburgueses.
Portanto, ante à inevitável incorporação das mulheres na força de trabalho explorada pelo capital, exigiram a sua participação nas organizações de trabalho, nas fileiras proletárias para que não sejam só carne de exploração, mas também sujeitos conscientes na luta pela sua libertação.
Assim, apesar da oposição dos anarquistas, defenderam a organização da Secção Feminina da Associação Internacional dos Trabalhadores, liderada por Elizabeth Dimitrieff, que depois foi enviada como representante à Comuna de Paris, expressando a solidariedade do movimento operario.
Exatamente o contrário do anarquista Proudhon, também da Primeira Internacional, que expressou seus preconceitos mesquinhos quando ele considerou "fatal e estúpido todos os nossos sonhos sobre a emancipação das mulheres, e [recusou] qualquer tipo de direito e iniciativa políticos, [afirmando que] “para as mulheres , a liberdade e o bem-estar consiste apenas no casamento, na maternidade, no trabalho doméstico, na fidelidade ao marido, na castidade e na aposentadoria. "
Proudhon também argumentou que as mulheres tinham apenas dois destinos possíveis: dona de casa ou prostituta e, portanto, se opôs à incorporação das mulheres na produção. Quando a costureira francesa Jeanne Deroin foi indicada como candidata nas eleições de 1849, Proudhon declaurou ela inapta em razão de que os órgãos para alimentar os bebês que possuem as mulheres, não as tornava adequadas para a votação. Jeanne Deroin respondeu a ele, pedindo que lhe mostrasse o órgão masculino que o permitia votar.
Na época da Comuna, em França, as mulheres já tinham uma longa tradição de participação em lutas revolucionárias. Em 1789, durante a grande Revolução Francesa, as mulheres da burguesia haviam assumido reivindicações políticas e de direitos civis, enquanto as mulheres em bairros pobres desempenhavam um papel importante nas manifestações contra a carestia e a fome.
Foram estas primeiras revoltas contra a fome e a participação em lutas revolucionárias que permitiram, as mulheres dos setores populares, a experiência da ação social e política coletiva, quebrando o isolamento da casa.
Junto com a critica ilustrada de um setor das mulheres burguesas e instruìdas, a uma política masculina e burguesa que excluía dos direitos civis às próprias mulheres da classe dominante, serão experiências não ocorriam em vão e isso será mostrado durante o século XIX.
Anos mais tarde, durante a Primavera dos Povos em 1848, se destaca a presença de trabalhadoras, de inspiração socialista e comunista, que reivindicam a igualdade para as mulheres associada com a emancipação de classe, com o superaçao da ordem existente.
Naquele tempo, vigorava em França o Código Civil napoleónico, um dos instrumentos burgueses mais restritivos para o status social das mulheres, uma vez que despojava as mulheres de qualquer direito, submetendo-as inteiramente ao pai ou marido. Não reconhecia as uniões consensuais e os filhos nascidos de tais relações eram considerados bastardos.
As mulheres estavam privadas do direito de voto, enquanto que as trabalhadoras sofriam ainda uma maior exploração nas condições de vida miseráveis. O código estabelecia que as mulheres eram propriedade do marido e seu papel social era unicamente o de ser mãe.
Mas essa experiência na luta de classes na França foi um fundo revolucionário para as mulheres que, em 1871, vêem na Comuna a possibilidade de conquistar uma república social com igualdade de direitos.
Como é sabido, em 1870, o imperador Napoleão III tinha arrastado o país para uma guerra contra o poderoso exército da Prússia. Quando a notícia da derrota da França chegou a Paris, o imperador abdicou e uma república foi fundada, com a criação de um governo de defesa nacional, enquanto que a Prússia iniciou o cerco da capital francesa.
Milhares de parisienses formavam, então, as milícias da Guarda Nacional, onde alguns batalhões compostos principalmente pelos trabalhadores, elegiam os seus próprios funcionários. Quando em março de 1871, a Assembléia Nacional aprova uma paz humilhante, a Guarda Nacional não aceita o desarmamento.
Em 18 de marco de 1871, as mulheres foram as primeiras a dar o alarme de que as tropas do governo tentabam retirar as armas das colinas de Montmartre e desarmar Paris. Se puseram diante das tropas e impediram que as armas fossem retiradas, chamando o proletariado e a Guarda Nacional para defender a cidade.
Assim, começou 140 anos atrás, o gesto heróico do proletariado parisiense: a Comuna de Paris. A comunarda Louise Michel relata: “Eu desci do monte, com a minha espingarda sob o casaco, gritando: Traição! Nós pensávamos morrer pela liberdade. Nos sentíamos como se nossos pés não tocassem o chão. Se morressemos, Paris haveria se erguido. De repente, vi minha mãe perto de mim e eu senti uma terrível ansiedade, inquieta, tinha chegado, e todas as mulheres estavam lá. Interpondo-se entre nós e os militares, as mulheres lançaram-se sobre os canhões e metralhadoras, os soldados permaneceram imóveis. A revolução estava feita.”
A Assembleia Nacional, antes da rebelião de seu próprio exército e do povo de Paris, mudou-se para Versalhes, a fim de submeter, de lá, a capital rebelde. A rebelião do povo de Paris estabeleceu um governo revolucionário comunal, em seguida, instou a comunidade e outras cidades francesas a seguir seu exemplo e a se unir em uma federação.
Levantando uma bandeira vermelha no mastro do conselho, o primeiro governo operario e popular da história, rapidamente decretou a separação entre Igreja e Estado, e declarou de propiedade nacional todos os bens da Igreja, a revogação de todos os funcionarios do governo, a exigência de que os parlamentares não recebessem mais do que o salário de um trabalhador; a supressão do exército regular e sua substituição pelo povo em armas, cancelou os pagamentos de aluguel e proclamou a igualdade de direitos para as mulheres. A Comuna foi um brilhante exemplo de como o proletariado pode cumprir as tarefas democráticas que a burguesía só pode declamar.
Enquanto isso, o executivo acelerou o ataque contra os rebeldes sob o olhar de aprovação dos prussianos.
A resistência da gloriosa Comuna de Paris só podia se quebrar depois de semanas de combates sangrentos, que resultou em uma atroz retaliação e custou milhares de vidas, uma das mais cruéis repressões que registra a história. Morreram mais pessoas durante a última semana de maio do que em todas as batalhas da Guerra Franco-Prussiana, e mais do que em qualquer massacre anterior da história da França.
Mulheres corajosas participaram ardentemente da Comuna, empunhando as armas, resistindo contra a tropas francesas e os prussianas, até que a derrota os impôs a morte em combate, as deportações e as execuções.
As mulheres, como sempre fizeram em todas as batalhas da história, fizeram uniformes, trataram os feridos, deram suprimentos aos soldados. Milhares de mulheres costuravam os sacos para construir barricadas.
Em suma, elas também criaram cooperativas e sindicatos, clubes políticos participaram exigindo direitos iguais e criaram suas próprias organizações como o Comitê das Mulheres de Monitoramento, o Club da Revolução Social e a União das Mulheres para a Defesa do Paris, fundada por membros da Primeira Internacional, influenciada pelo pensamento de Karl Marx.
Mas também, na Comuna, pela primeira vez, cerca de três mil mulheres trabalhavam nas fábricas de armas e munições, construíram barricadas e recolheram as armas dos mortos para continuar lutando e formaram um batalhão feminino da Guarda Nacional, composto por 120 mulheres que lutarou nas barricadas de Paris durante a última semana de resistência da Comuna, quando todos morreram em combate.
Eram trabalhadoras, mulheres de bairros pobres, pequenas comerciantes, professoras, prostitutas e "suburbanas". Estas mulheres organizaram clubes revolucionários, como o Comitê de Vigilancia das Cidadãs e a União das Mulheres para a Defesa de Paris, assim como haviam feito antes das mulheres na Revolução Francesa de 1789. Mas, ao contrário das mulheres que participaram da Grande Revolução, desta vez, as que assim quiseram contaram com as armas que os proletàrios parisienses não as negaram empunhar, como as haviam impedido os revolucionários burgueses.
No início de abril, os jornais publicaram uma chamada na qual as parisienses foram solicitadas a apoiar a luta dos seus maridos e irmãos e também pegar em armas. Foi a chamada de Elizabeth Dmitrieff, representante que a Primeira Internacional enviou a Paris; ela incitou a criar comitês de mulheres em todos os distritos para formar União das Mulheres para a defesa de Paris. Esta organização reivindicou espaço para reuniões comunitárias e dinheiro para publicar panfletos.
A União das Mulheres organizou numerosas assembleias públicas, suas comissões organizavam o fornecimento de alimentos, enviavam ambulâncias e atendiam os feridos.
Quando o governo da Comuna decretou que as oficinas abandonadas deviam se se transformar em cooperativas de trabalhadores, a União das Mulheres exigiu a participação das trabalhadoras: "União de Mulheres requer a Comissão de Trabalho e Comércio do município, organizar e distribuir novamente o trabalho das mulheres em Paris, e instruir o Comitê Central o armamento militar. No entanto, como este trabalho não é suficiente para a massa de trabalhadoras, o comitê central também exige dar as Asociaçoes Produtivas a quantidade de dinheiro necessário para restaurar as fábricas e oficinas que os burgueses deixaram e que abrangem ocupações essencialmente construídas pelas mulheres ".
Entre as mulheres do Clube da Revolução brilha o nome de Louise Michel. Ela nasceu em 1830, era filha natural de uma empregada doméstica parisiense, mas foi educada e se tornou professora. Em sua formatura, ela se recusou a jurar lealdade ao Império e foi forçada a fundar uma escola gratuita para poder ensinar. De acordo com suas convicções, apelou pela educaçao profissional e a criação de orfanatos laicos, que na época era uma inovação difícil de aceitar.
Em 21 de maio, as tropas comandadas por Versalhes, invadiram Paris dando início a Semana Sangrenta. Os testemunhos da época dizem que quando a Comuna caiu, as mulheres, furiosas com o massacre, bateram nos oficiais militares e, em seguida, se atiraram contra as paredes à espera de serem fuziladas.
A proprietária de um restaurante está sendo julgada por ter roubado uma loja de estátuas para igrejas, com o propósito de construir uma barricada. "Você usou as estátuas dos santos para levantar uma barricada?", perguntou o juiz. "Sim, é verdade. Mas as estátuas eram feitas de pedra e os que morreram eram da carne ", disse a comunarda.
Desta época data a lenda das incendiárias, embora as investigações diferem em afirmar se os incêndios que ocorreram em várias partes da cidade foram causados ​​por forças contrarevolucionarias ou se foram as mulheres que resistiram até o último dia nas barricadas as que botaram fogo em Paris, foram elas que pagaram com a deportação, prisão, e sua própria vida, passando para a história como incendiárias. A República se propôs a sufocá-las.
Em Paris, as trabalhadoras e os trabalhadores resistiram ao selvagem e vergonhoso ataque do exército comandado pela burguesia francesa, com quem colaborou o inimigo da Prússia, libertando os prisioneiros de guerra para que eles pudessem se alistar e lutar contra o proletariado francês em armas.
Mulheres e homens da burguesia, que fugiram de Paris diante do poder operario que passou a ameaçar seus privilégios de classe, trabalharam como agentes e informantes do governo repressivo.
Finalmente, quando veio a derrota dos comunardos heróicos, as mulheres da burguesia voltaram para suas casas e andaram pelas ruas de Paris, com alegria pelo retorno da "ordem", molhando, como mostraram algumas gravuras da época, as pontas de seus guarda-chuvas no sangue ainda fresco daqueles homens e mulheres que, tragicamente, tornaram-se mártires.
Louise Michel apresenta-se aos juízes, pedindo-lhes a morte. Como seus irmãos de classe, reinvindica morrer no Campo de Satory, onde, na noite de 27 de maio, milhares foram massacrados pelas tropas de Versalles. Mantém uma atitude heróica ante o tribunal, um exemplo de firmeza e convicção revolucionária, rechaçando os advogados designados, e apresentando sua defesa pessoalmente.
Perante o tribunal que a condenou, disse: "Eu pertenço inteiramente à Revolução Social. Declaro aceitar a responsabilidade por minhas ações. Devo ser excluída da sociedade e os digo a vocês para fazerem isso. Uma vez que, aparentemente, todo coração que bate por liberdade tem direito a um pouco de chumbo, exijo minha parte! Se você me deixar viver, não deixei de clamar por vingança e denunciar, em vingança dos meus irmãos, os assassinos do Comité das Graças ".
Ela acabou sendo deportada por nove anos na colónia penal de Nova Caledônia, onde ensinou os nativos a pensar em liberdade, acompanhando-os em sua rebelião contra o domínio colonial francês.
Quando retorna a Paris, é punida com seis anos de prisão por liderar uma manifestação de desempregados que acabou com as janelas quebradas de padarias e açougues. Na ocasião, ela carregava uma bandeira negra, que mais tarde foi tomada como um símbolo da luta dos anarquistas.
Retomou sua militância: em suas palestras divulgando a idéia de libertação através da revolução social; contra a pena de morte e a favor da greve geral. Entre 1890 e 1895, viveu em Londres onde ela escreveu alguns de seus poemas e de romances e suas memórias da Comuna.
Em Marselha, em 1905, enquanto proferia uma conferencia diante de uma audiência operaria, morreu ela que depois foi chamada de "A Virgem Vermelha". Uma multidão se juntou ao seu cortejo fúnebre.
Mas Louise não era a única mulher que, corajosamente, participou dos dias memoráveis ​​da Comuna de Paris. Podemos também nomear André Léo responsável pela publicação do jornal La Sociale, Beatriz Excoffon, Sophie Poirier e Anna Jaclard, da Comissão das Mulheres para Vigilancia; Marie-Catherine Rigissart, que comandou um batalhão de mulheres, Adelaide Valentin, que chegou ao posto de coronel, e Louise Neckebecker, capitã de companhia, Nathalie Lemel, Aline Jacquier, Marcelle Tinayre, Otavine Tardif e Blanche Lefebvre, fundadoras da União das Mulheres, Josephine Courbois, conhecida como a rainha das barricadas.
Como não é difícil avaliar, a unidade com as mulheres burguesas era impossível nas barricadas. Duas classes se confrontavam abertamente e as mulheres se alinharam de acordo com seus interesses de classe para os dois lados da linha de fogo.
É que no século XIX, as contradições que surgiram no começo durante o século anterior, são exibidos em todas as suas dimensões. O proletariado faz a sua entrada na história como uma classe distinta que se rebela contra a exploração brutal do capital. Como e evidenciado por estas lutas, incluindo centenas de greves, passeatas, sabotagem e revoltas do movimento operário do século XIX, a história do século XX é o colapso daquele frente unica entre burgueses e proletários, que tinham lutado contra o clero e aristocracia constituemdo os estados capitalistas modernos.
O proletariado, que tinha sido aliado da burguesia contra o absolutismo feudal, tornou-se abertamente em potencial inimigo. A burguesia, intimidada pelo medo que inspira o proletariado em armas, agora é impotente para realizar sua missão histórica.
Essa rejeição contra as massas transformou-se em rios de sangue na Comuna de Paris, e não havia como voltar atrás. Neste novo período histórico, como é observado por várias autoras, tanto nas lutas e nas novas formas de organização social, as mulheres trabalhadoras e dos setores populares foram uma vanguarda importante entre as massas que "empurram para a frente "em uma luta que as enfrentava com outras mulheres que haviam sido, outrora, as suas aliadas.
É a acentuação do antagonismo de classe que a frente da luta das mulheres por seus direitos é dividida em duas grandes tendências. Enquanto as mulheres que pertenciam às classes dominantes continuam a se rebelar contra a desigualdade de direitos formais em relação aos homens da mesma classe, mas apenas raramente em solidariedade com as mulheres das classes mais baixas, as mulheres da classe trabalhadora e dos setores populares, empurram fundamentalmente, as lutas da sua classe pelo seus direitos e, neste contexto, reivindicam seus direitos como mulheres.
A significativa participação das mulheres na Comuna de Paris, revolucionou o movimento operário francês, que deixou sua marca antifeminista proudhoniana e começou a ter uma atitude mais aberta com as mulheres politicamente ativas da classe trabalhadora.
Ante cada revolta da classe trabalhadora, em todos os acontecimentos da luta de classes e em todas as partes do mundo, sempre que os explorados enfrentam a opressão, as mulheres ocupam um lugar de vanguarda, como tem fizeram na Comuna de París. É que, tal como dizia o revolucionário Leon Trotsky, quem mais sofreram com o velho são aqueles que lutam com mais fervor pelo novo. Ou, nas palavras da comunarda Louise Michel: "Cuidado com as mulheres quando se sentem enojadas de tudo o que as rodeia e se levantam contra o velho mundo. Nesse dia nascerá o novo mundo."